segunda-feira, 13 de junho de 2011

Annah Arendt: a autoridade do professor vem-lhe de ele/a conhecer o Mundo e ser o mediador entre este e a criança

Annah Arendt coloca a autoridade do professor nos devidos termos: só há autoridade quando se conhece profundamente alguma coisa. A autoridade do/a professor/a vem-lhe do conhecimento do Mundo, isto é, das ciências, das artes e das humanidades. Não é apenas por se possuir uma qualificação que se tem autoridade.

Mas conhecer o Mundo não é suficiente para ser reconhecido como autoridade. É preciso saber mediar entre a criança e o Mundo, isto é, saber introduzir a criança no Mundo, levar este até à criança e torná-lo compreensível.


Só conhecendo o Mundo é possível compreendê-lo. Só compreendendo o Mundo é possível criticá-lo e mudá-lo.

A transformação do Mundo, isto é, da Sociedade, não se faz com pessoas incultas e ignorantes. A escola preparar tanto melhor para a transformação do Mundo, isto é, da Sociedade, quanto mais permitir à criança e ao jovem que conheçam o Mundo. Oiçamos Annah:

[...] Na medida em que a criança não tem familiaridade com o mundo, deve-se introduzi-la aos poucos nele; na medida em que ela é nova, deve-se cuidar para que essa coisa nova chegue à fruição em relação ao mundo como ele é. 

Em todo caso, todavia, o educador está aqui em relação ao jovem como representante de um mundo pelo qual deve assumir a responsabilidade, embora não o tenha feito e ainda que secreta ou abertamente possa querer que ele fosse diferente do que é. 

Essa responsabilidade não é imposta arbitrariamente aos educadores; ela está implícita no facto de que os jovens são introduzidos por adultos num mundo em contínua mudança. Qualquer pessoa que se recuse a assumir a responsabilidade coletiva pelo mundo não deveria ter crianças e é preciso proibi-la de tomar parte em sua educação.

Na educação, essa responsabilidade pelo mundo assume a forma de autoridade. A autoridade do educador e as qualificações do professor não são a mesma coisa. 

Embora certa qualificação seja indispensável para a autoridade, a qualificação, por maior que seja, nunca engendra por si só autoridade. 

A qualificação do professor consiste em conhecer o mundo e ser capaz de instruir os outros acerca deste, porém a sua autoridade assenta na responsabilidade que ele assume por este mundo. Face à criança, é como se ele fosse um representante de todos os habitantes adultos, apontando os detalhes e dizendo à criança: - Isso é o nosso mundo. In Anna Arendt. "A Crise da Educação". Entre o Passado e o Futuro. S. Paulo: Perspectivas. 
 

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